Me peguei tentando definir as mudanças que houveram no último ano e me impressionei.
Consegui passar por muita coisa e tanta coisa que não se deve ser publicada em um blog online. Mas ao mesmo tempo quero entendê-las e esse é o meu lugar então talvez essas palavras sejam difíceis de decifrar.
Consegui passar por muita coisa e tanta coisa que não se deve ser publicada em um blog online. Mas ao mesmo tempo quero entendê-las e esse é o meu lugar então talvez essas palavras sejam difíceis de decifrar.
Um ano atrás eu saía da clínica, querendo tanto viver e me deparando com um mundo de morte. Acho que só agora consigo digerir o começo do caos, estou vivendo sempre no automático.
Faz tanto tempo que não escrevo. Me impus a regra de escrever todos os dias à mão num diário mas depois de uma semana eu já tive preguiça pois todos os dias são iguais e pra que escrever isso? Mesmo que eu escreva para me aliviar eu não quero apenas repetir as coisas.
Um ano atrás eu não tinha nada e estava surtando por isso. Hoje está mais fácil de lidar: dinheiro? Não tenho, mas estou tranquila.
Ah, as flutuações de caixa. Bizarro. Em um ano nenhum emprego formal. Sempre na linha do limite da miséria.
Mas bem, voltando às mudanças. Uso mais droga hoje, pra poder parar de pensar. Estou estável apesar de estar ausente da análise há mais de um mês. Ainda possuo bom humor então mesmo quando tudo desaba eu dou risada e tive poucos surtos nesse ano todo.
Perdi o homem que amo e o recuperei. Vivi numa realidade paralela e reencenei traumas, mesmo com análise, mesmo com remédios. Fazia tempo que não acontecia.
Aprendi a bordar e bordei muito, continuo bordando. É meu hobby de pandemia mas não ganho dinheiro com isso. Faço porque consigo canalizar o perfeccionismo.
Mas confesso que tem sido difícil porque minhas mãos tremem o tempo todo agora, reação dos remédios. Quebro coisas, me corto, derrubo. Estou lidando melhor mas ainda não acostumei e às vezes fico bem frustrada.
Minha vó morreu, tive uma gata que tive que mandar embora, platinei o cabelo e voltei pro ruivo, tenho tatuagem nova e talvez um futuro.
Talvez um futuro é melhor que nenhum futuro mas vamos combinar: uma bosta né? Eu nunca tive muita noção de futuro porque meus planos costumam desabar em três semanas então não me dou mais ao trabalho. Mas por escolha minha. Ser impedida de imaginar qualquer situação plausível porque a cada dia as notícias são mais bizarras e inacreditáveis eu particularmente acho uma merda.
Nunca escrevi sobre a pandemia. Nunca me passou pela cabeça dizer o que as pessoas deveriam fazer ou sentir nesse momento porque eu estava completamente perdida nesse rolê e faz mais de um ano que to tentando me encontrar. E na verdade não faz nenhum sentido eu escrever sobre a pandemia porque só posso escrever sobre o efeito dela em mim.
A conclusão é que o efeito da pandemia em mim não foi devastador. Eu já lidei com muita coisa ruim antes e o problema em si não foi a pandemia.
Foi ela evitar que eu pudesse ter uma chance de novo e tivesse que esperar mais de um ano por isso. Como se eu tivesse esse tempo todo para desperdiçar na minha vida porque a sociedade é incapaz de acreditar na ciência, em dois mil e vinte um.
Porém ainda sinto que estou fazendo algo errado por estar escrevendo sobre um acontecimento que ainda não terminou.
Sei que ainda não estamos nem perto de acabar. Mas talvez esse aqui seja um ponto importante para que eu possa entender.
Essa atualização é para a eu do futuro, seja ela qual for.
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